BH FM

Menu principal Tocar rádio ao vivo Conteúdo Principal

Quem foi Ayrton Senna, último brasileiro tricampeão de F1

Nascido em São Paulo, piloto tornou-se um dos maiores nomes da história da categoria, conquistou três títulos em 1988, 1990 e 1991 e morreu durante fatídico GP de San Marino em 1994
Senna - Foto: Reprodução Twitter @McLaren
Senna - Foto: Reprodução Twitter @McLaren

Patrono do esporte brasileiro, Ayrton Senna da Silva foi um dos maiores pilotos da F1. Iniciando sua carreira em 1984, foi campeão em 1988, 1990 e 1991, fez história em sua passagem pela McLaren formando dupla com o francês tetracampeão Alain Prost e anotou recordes que detém até hoje. Porém, despediu-se precocemente em um acidente fatal no GP de San Marino em 1994, deixando órfã uma geração que só veria um brasileiro vencer de novo com Rubens Barrichello no GP da Alemanha de 2000 mas imortalizando seu nome. Saiba mais sobre a trajetória do último tricampeão do Brasil na F1!

Nascido em São Paulo no bairro de Santana, Ayrton começou a correr de kart aos quatro anos, e a brincadeira virou coisa séria com 13. Aos 21 anos, Senna migrou para a Europa, onde conquistou em 1981 o campeonato da Fórmula Ford 1600 no Reino Unido ao vencer 12 de 20 corridas. Dois anos depois, ele faturou o título da Fórmula 3 britânica, na época o último degrau antes da Fórmula 1.

A estreia na elite do automobilismo europeu foi em 1984 pela Toleman. Senna sofreu uma quebra em sua estreia em casa, no GP do Brasil em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Seu primeiro ponto, porém, veio logo na etapa seguinte do GP da África do Sul.

Em um ano desafiador devido ao carro, abandonando oito de 14 provas, o brasileiro fez sua estrela brilhar pela primeira vez no chuvoso GP de Mônaco. Nele, largou em 13º e atravessou o grid sob condições adversas, desafiando até o tricampeão Niki Lauda e chegando perto do vencedor Alain Prost para terminar em segundo lugar.

O primeiro triunfo

O brasileiro conquistou sua primeira vitória na F1 no GP de Portugal de 1985, quando trocou a Toleman pela Lotus. Ele vinha de um abandono em Jacarepaguá por falha elétrica e teria direito ao carro reserva em caso de nova pane em Estoril - o que aconteceu, mas não o livrou de uma série de problemas.

Depois de garantir a pole position, Senna sofreu uma quebra no motor Renault no domingo antes da corrida - durante um treino de aquecimento que era disputado na categoria até 2002. E ainda voltou a chover forte no circuito; entretanto, Ayrton garantiu seu triunfo abrindo uma volta sobre 19 dos 20 pilotos que restaram na disputa, exceto o segundo colocado Michele Alboreto.

A segunda vitória veio no mesmo ano, no GP da Bélgica. Na temporada seguinte, levou os GPs da Espanha e Estados Unidos e, em 1987, sua última passagem pela Lotus, anotou dois triunfos consecutivos em Mônaco e nos Estados Unidos.

Glória e tensão

A histórica parceria entre Senna e McLaren começou em 1988. Com a equipe britânica, o brasileiro fez uma das temporadas mais dominantes do time e de sua carreira, fechando o ano com 13 poles, 11 pódios e oito vitórias em 16 corridas para conquistar seu primeiro título mundial.

Juntos, Ayrton e Alain venceram 15 das 16 corridas de seu primeiro ano juntos. Mas iniciaram também uma antológica rivalidade que deslanchou de vez com uma "troca de fechadas" entre eles em Portugal. No começo de 1989, Senna teria também rompido um acordo ao ultrapassar o colega em Imola.

Logo na sua estreia, Senna levou a pole em Jacarepaguá - sua primeira no Brasil. Porém, foi desclassificado por trocar de carro após a bandeira verde que antecede a largada após uma quebra de câmbio. Antes da punição, ele partiu em último, recuperou-se e chegou à vice-liderança. Entretanto, Alain Prost teve caminho livre para vencer - sobretudo com o pit stop que levou o Ayrton ao sexto lugar.

A primeira vitória do brasileiro pela McLaren foi em um 1º de maio no GP de San Marino, logo após a etapa do Brasil. Ayrton conquistou a pole com 0s7 de vantagem para Prost - e incríveis 3s sobre Nelson Piquet, terceiro colocado. E enquanto o francês perdia posições com uma largada ruim - só retornando à vice-liderança após oito voltas -, o brasileiro seguiu na ponta até o fim da prova.

Ainda em 1988, em Mônaco, Ayrton faturou a pole com quase 1s5 para Prost e esteve perto de abrir um minuto de diferença para o colega na corrida até bater, na entrada do túnel na volta 66. Ele sequer voltou para a garagem da McLaren e foi andando para sua casa em Monte Carlo. O brasileirotambe´m perdeu a chance de brigar pela vitória no México após largar da pole e cair para terceiro.

O brasileiro retornaria ao lugar mais alto do pódio no Canadá, ultrapassando o colega de equipe na 19ª volta. Senna faturou a prova de Detroit também, mas na França seu undercut não foi suficiente para evitar o triunfo de Prost. Em Silverstone, ele volta a vencer, indo de terceiro a primeiro debaixo de muita chuva - e também levou a melhor sob as mesmas condições na Alemanha.

Ayrton levou a melhor na Hungria e empatou em 66 pontos com o líder do campeonato, Prost. Enfim, na Bélgica, além dele assumir a liderança, a McLaren conquistou o Mundial de construtores com cinco provas de antecedência. A grande decisão do título no Japão foi antecedida por um abandono duplo dele e Prost em Monza, uma sexta colocação de Senna em Estoril e um quarto lugar na Espanha.

E Suzuka começou com drama: a McLaren de Senna teve uma pane e ele caiu para o fundo do grid; na largada sob pista molhada, passou oito carros. Depois mais dois, e mais dois, até chegar à vice-liderança na 20ª volta. A histórica ultrapassagem do título veio no 28º giro apesar da defensiva do francês da McLaren. Senna tornou-se campeão do mundo pela primeira vez.

A segunda temporada com a dupla culminou no título do francês - com direito a uma colisão entre ele e Senna no GP do Japão, que terminou com o brasileiro desclassificado. E o ano já não havia começado bem para Ayrton, com um 11º no Brasil. No entanto, ele voltaria ao topo do pódio em San Marino, na etapa seguinte, quando fez uma polêmica ultrapassagem sobre Prost na curva Villeneuve.

Ayrton triunfou também em Mônaco antes de outra sequência de azar: quebrou nos Estados Unidos, Canadá e França, e abandonou na Inglaterra após largar da pole e rodar, ficando com 20 pontos de diferença para o líder Prost. Ele ganhou na Alemanha e foi segundo na Hungria, mas apesar de ainda vencer de ponta a ponta na Bélgica, sofreu outra falha, no motor, quando andava em primeiro na Itália.

A maré de azar seguiu e o brasileiro foi atingido no GP de Portugal por Nigel Mansell, que havia sido desclassificado por dar a marcha ré no pit lane. O triunfo na Espanha, porém, o ajudou a chegar vivo na penúltima etapa do campeonato em Suzuka, no Japão, com quatro pontos à frente de Prost. Pole, o brasileiro foi superado na largada pelo colega, com o qual se chocaria posteriormente.

Presidente da Federação Internacional de Automobilismo Esportivo (Fisa), Jean-Marie Balestre declarou Prost campeão apesar do abandono do francês, seu compatriota. Senna disse que o campeonato foi manipulado, porém, teve que se retratar para ser inscrito no campeonato de 1990.

Em 1990, Prost foi para a Ferrari e Ayrton ficou. Mas a antológica rivalidade seguiu firme no ano do segundo título do brasileiro, que desembarcou em Suzuka para impedir um triunfo do francês que lhe renderia o tetracampeonato: com isso, eles bateram mais uma vez, na largada. Ambos abandonaram.

O último título de Senna veio em 1991 em um ano de disputa com a Williams de Nigel Mansell, confirmada a queda de rendimento da Ferrari de Prost. Foi também o quarto campeonato mundial consecutivo da McLaren. O esforço na corrida por atualizações do carro MP4/6, porém, fez a equipe atrasar os trabalhos no modelo do ano seguinte, pondo fim à sequência vitoriosa do time.

Saída da McLaren e estreia interrompida na Williams

O brasileiro ainda passaria mais dois anos na equipe britânica. Em 1992, ele venceu apenas três vezes no ano de glória da Williams de Mansell. Com ele, Senna protagonizaria na última etapa do ano, na Austrália, um duelo que terminou com batida e abandono para ambos - o que impediu Ayrton de levar o vice-campeonato.

Este viria só em 1993, quando a McLaren trocou o motor Honda pela Ford e Senna faturou cinco vitórias, incluindo a última de sua carreira em Adelaide, no mesmo GP da Austrália. A evolução tecnológica dos carros da Williams, que contava com o grande projetista Adrian Newey (hoje figura central na austríaca RBR), atraiu Senna.

O brasileiro assinou com a equipe e estreou em 1994, mas acabou surpreendido: a Federação Internacional do Automobilismo (FIA) barrou os recursos eletrônicos do carro, incluindo a suspensão ativa, e ainda trouxe de volta o reabastecimento. O projeto da Williams tinha problemas graves e, apesar de três poles no início da temporada, Senna não pontuou nenhuma vez.

Na abertura do campeonato, no Brasil - dessa vez em Interlagos -, ele rodou; no GP do Pacífico, no Japão, bateu. Sua última corrida seria o nebuloso GP de San Marino em Imola.

O fim de semana começou com um grave acidente que deixou Rubens Barrichello com uma luxação na costela e uma fratura no nariz apesar do forte impacto de 90G - equivalente aos 72 kg que pesava o jovem brasileiro, multiplicados 90 vezes pela força da gravidade. No sábado, morria o austríaco Roland Ratzenberger, mas a F1 optou por seguir com a etapa.

A corrida em 1º de maio começou com um acidente envolvendo JJ Lehto e Pedro Lamy; destroços do impacto feriram nove pessoas nas arquibancadas. A prova teve seu início e, na sétima volta, Senna foi direto para o muro da curva Tamburello.

O impacto rompeu a barra de suspensão de sua Williams e a peça o atingiu na testa, atravessando o capacete. A disputa foi paralisada para o socorro do brasileiro, atendido ainda na pista e levado de helicóptero para o Hospital Maggiore de Bolonha. Na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), aos 34 anos, Ayrton teve sua morte confirmada às 18h40 do horário local - 13h40 no horário de Brasília.

Na época, foi noticiado que o piloto havia tido morte cerebral instantânea ao traumatismo, o que segundo as leis da Itália, forçaria o cancelamento da corrida. O mesmo teria acontecido com Ratzenberg no sábado. A prova, porém, seguiu e foi vencida por Michael Schumacher. O então chefão da F1, Bernie Ecclestone, negou que os óbitos haviam ocorrido em pista.

Despedida levou milhões às ruas

A reação imediata no Brasil foi uma declaração de luto oficial de três dias. Senna foi velado nos dias 4 e 5 de maio na Assembleia Legislativa de São Paulo, quando até as repartições públicas na capital paulista tiveram ponto facultativo decretado. O caixão do tricampeão recebeu visitas de 240 mil pessoas, e o cortejo que o seguiu até o Cemitério do Morumbi foi acompanhado por um milhão de fãs.

Em 1997, a justiça da Itália indiciou Adrian Newey (projetista da Williams) e os chefes Frank Williams e Patrick Head, além de mais três pessoas. Atribuiu-se a culpa da morte do piloto à quebra na coluna de direção da sua Williams, por uma solda malfeita; a peça havia sido recolocada em outro ângulo para evitar que as mãos de Ayrton esbarrassem no cockpit ao segurar o volante.

Os acusados, porém, foram absolvidos porque considerou-se que a promotoria não conseguiu provar as causas de sua morte. Um novo julgamento em 2007 concluiu que "o acidente foi causado por uma falha na coluna de direção. Essa falha foi causada por mal projetados e mal executados. A responsabilidade por isso recai sobre Patrick Head, culpado de controle omitido".

Head, no entanto, não foi preso devido ao tempo que se passou desde o acidente: 13 anos. E em sua autobiografia publicada em 2017, Adrian Newey admitiu sentir-se responsabilizado pelo acidente fatal de Senna:

- Eu era um dos oficiais seniores em uma equipe que fez o design de um carro no qual um grande homem morreu. Eu sempre sentirei um grau de responsabilidade pela morte de Ayrton, mas não culpa. Não importa se essa coluna de direção causou o acidente ou não. É impossível esquecer que o eixo era uma peça mal desenhada, que nunca deveria ser permitida em um carro Eu estraguei a transição da suspensão ativa para o passivo e projetei um carro que era aerodinamicamente instável. Ayrton tentou fazer coisas que o carro não era capaz de fazer. Se sofreu um furo, e simplesmente passou mais rápido num carro aerodinamicamente instável, isso tornaria o carro difícil de controlar, mesmo para ele - desabafou o projetista.

Vitórias em casa

Senna disputou 11 edições do GP do Brasil, em Jacarepaguá e Interlagos, e tem duas vitórias. A primeira, em 1991, veio com contornos dramáticos: após largar da pole, sofreu com a pressão de Nigel Mansell até a volta 60, quando o britânico rodou.

A chuva veio em seguida, junto com um problema sério: Ayrton perdeu sua terceira, quarta e quinta marchas e completou as seis últimas voltas com o câmbio travado na sexta marcha, à frente de um Riccardo Patrese mais veloz. O motor da McLaren apagou logo após o fim da disputa e, exausto em função do desgats físico necessário para controlar o carro em tais condições, o brasileiro precisou ser atendido na pista.

Já em 1993, quem surgiu como algoz do brasileiro foi o pole Prost, da Williams. Senna largou em terceiro e superou o vice-líder Damon Hill, até superar seu antigo arquirrival na 11ª volta. Alguns giros depois ele foi punido com um stop and go (passagem pelo pit lane) por ultrapassar Eric Comas, retardatário, sob bandeira amarela.

Aí, mais uma vez, a chuva veio: no 27º giro o brasileiro calçou pneus de chuva, pouco antes de Prost, com pneus de pista seca (slick), bater em Christian Fittipaldi. Aguri Suzuki acionou um safety car ao acertar a reta dos boxes; a prova foi retomada na 37ª volta, já sem chuva, e com Senna em segundo lugar.

O brasileiro voltou aos slicks e assumiu a liderança ao superar Hill, o novo líder, na curva Laranjinha. Seu motor Ford ameaçou ceder mas deu tempo de receber a bandeirada - embora ele parasse definitivamente a um quilômetro da linha de chegada.

Gesto imortalizado

A imagem de Senna foi imortalizada com uma bandeira tremulante do Brasil em suas mãos, símbolo que ganhou força no lugar mais alto do pódio num período sociopolítico e economicamente conturbado para o país. E ele começou com a vitória de Ayrton no GP de Detroit em 1986, nos Estados Unidos.

Um dia antes, a Seleção brasileira de futebol havia sido eliminada pela França nas quartas de final da Copa do Mundo do México. Ao ver muitos brasileiros nas arquibancadas com a bandeira, o tricampeão pediu uma. O gesto serviu ainda para responder os mecânicos de sua equipe, a Lotus (que corria com o motor francês Renault) e o projetista Gerard Ducarouge, que o provocaram pelo resultado na Copa.

- Depois da derrota de ontem, acho que, dentro do possível, deu uma compensada. Quando acabou a prova, vi muitos brasileiros aqui na arquibancada com bandeira e as cores do Brasil. Então eu parei, pedi, e um brasileiro me deu a bandeira. Valeu o esforço! - contou Senna, na época.

"Rei de Mônaco"

O tricampeão é o maior vencedor das ruas de Monte Carlo, com seis triunfos. O primeiro veio em 1987, pela Lotus - que tinha como novidade a suspensão ativa. Na ocasião, após largar em segundo, ele ultrapassou Mansell, da Williams, que era o pole position.

A segunda vitória foi em 1989, sucedendo uma troca de acusações entre o brasileiro e Prost pela ultrapassagem em Imola que quebrou o "pacto de não agressão" da dupla. A vantagem de Senna sobre o rival chegou a quase um minuto.

A vitória de número três veio em 1990, corrida iniciada com uma sequência de batidas que incluiu Gerhard Berger e Prost - este último abandonando a prova. Ayrton precisou brigar com o retardatário Satoru Nakajima e evitar uma colisão com ele e, posteriormente, Derek Warwick.

Seu motor começou a falhar e quase o deixou na mão, perdendo 24s de vantagem nas últimas dez voltas. Ainda assim, ele cruzou a linha de chegada com 1s de vantagem sobre Jean Alesi.

A sequência de triunfos passou ainda por 1991 e 1992, ano em que Ayrton igualou Graham Hill como Rei de Mônaco. Para isso ele superou o poderoso FW14B da Williams de Nigel Mansell, que havia largado da pole position com 1s1 sobre o brasileiro, em terceiro atrás de Riccardo Patrese.

E se Mansell deixou o tricampeão para trás no decorrer da prova, o britânico acabou com uma das rodas de seu carro soltas. A seis voltas para a bandeirada ele teve que visitar o pit lane, cedendo a liderança ao rival da McLaren.

A diferença entre eles foi facilmente descontada pelo Leão - mas não o suficiente para recuperar a vantagem e ultrapassar Senna. O brasleiro faturou sua primeira vitória de três no ano.

Em 1993, Senna chegou a bater durante os treinos e precisou ter seu volante adaptado. Largou em terceiro, mas acabou rodando na saída do túnel, na classificação. Entretanto, Prost foi punido por queimar a largada e retirou-se da briga de vez quando seu carro morreu ao sair dos boxes, depois de cumprir 10s de stop and go.

Aí, era Michael Schumacher quem liderava, até sua Benetton pegar fogo pelo rompimento de uma tubulação de fluído da suspensão ativa. Com 30s sobre Damon Hill, deixou pra trás o recorde de cinco vitórias de Graham Hill e foi coroado o Rei de Mônaco, título que detém até hoje.

Senna do Brasil

Um dos sobrenomes mais famosos do esporte mundial só veio à tona em 1981, quando Ayrton corria no Reino Unido; antes, o piloto utilizava o sobrenome do pai, "da Silva", mas decidiu adotar o sobrenome de solteira de sua mãe e eternizando "Senna" na história da F1.

Fonte: GE

ver todos